O comboio-bloco, a grande inovação ferroviária da Cargill

Em 1966, a companhia ferroviária Illinois Central Railroad (ICR) procurava um parceiro para uma ideia inovadora. Em vez de alugar vagões individuais para o transporte de cereais, a ICR pretendia fazer a locação de toda a composição. Ao perceber que a utilização de "comboios-bloco" reduziria drasticamente os custos com o transporte e criaria novas possibilidades agrícolas e de comercialização por todo o país, a Cargill aceitou participar no projeto. Contudo, isso significava que a Cargill teria de conseguir reunir uma quantidade de cereais nunca antes vista - suficiente para encher mais de 100 vagões - dentro de um prazo muito curto.

Nunca se tinha tentado tal façanha com os cereais. As questões de logística e as tarifas sempre tornaram os custos de expedição ferroviária proibitivos. Para além disso, as culturas apenas estavam disponíveis em quantidades concentradas e apenas durante algumas semanas durante a época de colheita. E mais ainda, se os cereais estivessem armazenados demasiado tempo, poderiam estragar-se. Recolher, armazenar e carregar 100 vagões de cereais era um desafio considerável.

A Cargill sabia que os comboios-bloco iriam reduzir os custos com o transporte até 50%. Mas a empresa também percebeu que a nova via de transporte exigiria um novo tipo de terminal de exportação interior. Até então, a empresa dependia principalmente das vias navegáveis do país e alugava vagões individuais para o transporte.

Para a Cargill, era uma mais-valia complementar as vias navegáveis com ferrovia, oferecendo também aos agricultores de regiões interiores um novo acesso ao mercado global. Ao ver o enorme potencial de ajudar mais agricultores a comercializar os seus cereais de forma mais eficiente, a Cargill aceitou o desafio do comboio-bloco.

Para conseguir obter um carregamento de cereais que enchesse mais de 100 vagões, a Cargill construiu novas instalações e desenvolveu novas técnicas. Para aumentar a capacidade, a empresa construiu várias novas fábricas de processamento e instalações de armazenagem na região Centro-Oeste dos Estados Unidos. Desenvolveu equipamento de ventilação e de secagem para armazenar cereais e mantê-los nas melhores condições até muito tempo depois da sua colheita. E para além disso, a Cargill investiu num novo terminal de exportação de 3,6 milhões de alqueires na periferia de Gibson City, Illinois.

Por fim, no inverno de 1967, os presidentes da Cargill e da ICR assistiram à saída do primeiro comboio-bloco de cereais da estação de Gibson City, com 115 vagões completamente atestados. Com mais de 400 mil alqueires de milho do Illinois atrelados, o comboio-bloco dirigiu-se para o terminal de exportação da Cargill em Baton Rouge, no Louisiana, retornando a Gibson City em apenas cinco dias.

Um comboio-bloco da Cargill, com 115 vagões, que, coletivamente, transportavam 400 mil alqueires de milho do Illinois.
 

Diretores da Cargill e da Illinois Central Railroad juntam-se para celebrar a estreia do comboio-bloco.

Surgiram várias complicações durante o percurso: sob o peso do comboio na sua carga máxima, uma ponte ferroviária cedeu, fazendo descarrilar 14 vagões do comboio. Apesar de o descarrilamento ter sido um contratempo, a Cargill considerou que a viagem foi um sucesso. A empresa comprometeu-se a um mínimo de 56 viagens de ida e volta para o ano seguinte e forneceu mais de 22 milhões de alqueires de milho a Baton Rouge. Pouco depois, a Cargill inaugurou um novo terminal de transporte interior em Tuscola, no Illinois, e um terceiro em Linden, no Indiana.

Os comboios-bloco revolucionaram a indústria dos cereais e a Cargil desempenhou um papel fundamental. Ao longo do tempo, a criação de novas instalações e o equipamento de ventilação permitiram aumentar a capacidade das composições ferroviárias e dar resposta à procura durante todo o ano. A locação de comboios-bloco tornou-se no método padrão de transporte de grandes volumes e iria proporcionar um enorme crescimento agrícola nos anos seguintes.